Hoje comemora-se o Dia Internacional do Voluntariado! Deixamos uma texto de Duarte Paiva escrito para a Visão Solidária em 2014 com o tema: “Porque Fazemos Voluntariado?” Tema muito atual!
PORQUE FAZEMOS VOLUNTARIADO?
Aos 14 anos, quando dei os meus primeiros passos como voluntário, não pensei na razão que me levava a desejar ser cadete nos bombeiros voluntários locais. Na verdade, continuo sem saber bem o que me motivou nessa altura, embora hoje faça várias reflexões sobre o “eu” voluntário. Seja como for, comecei e, 19 anos depois, mantive-me neste caminho de escolha passando por várias situações de voluntariado e fundando também projetos sociais. Fui sendo questionado ao longo dos anos por várias pessoas da razão desta parte da minha vida. Amigos, conhecidos, colegas observaram vivamente as minhas escolhas de ser voluntário.
Mas mais importante do que as perguntas, foram as respostas várias que fui lendo e ouvindo ao longo dos últimos anos a coordenar voluntários e voluntárias. Li e ouvi “de tudo”. Isso sim, esses confrontos de vontades, fizeram-me pensar e interrogar o porquê de fazermos voluntariado. Várias pessoas afirmam as suas razões, mas sem certeza de serem as melhores para justificar o seu envolvimento em voluntariado. Normalmente porque consideram que a sua razão pode não ser suficientemente nobre e altruísta. Às vezes, mesmo algumas pessoas apresentam alguma angústia por não saberem se a razão que as leva ao voluntariado é a mais “correta”.
Quem professa uma fé dirá que é um “dever moral”. Os ateus falam na vontade própria de intervirem. Outros, que não sendo bem crentes ou ateus, afirmam vontades diversas como o tempo disponível, o conhecer outras realidades, o dar alguma coisa, o crescer pessoal, a cidadania, entre outras motivações. Mas então qual é ou quais são as razões certas para a prática de voluntariado? O que deve movimentar as pessoas?
Ora, desde que todas as motivações sejam livres e assentes numa decisão sem imposição, tal como por definição e princípio o voluntariado é, todas as razões são certas, aceitáveis, pertinentes. Fazemos voluntariado porque é uma atitude naturalmente humana, pois provém da nossa vontade intrínseca de liberdade e de nos movimentarmos em benefício do outro, da comunidade e de situações em que disponibilizamos os nossos recursos enquanto pessoas ou ainda porque somos curiosos e queremos aprender. Esta naturalidade fez-me considerar profundamente que fazemos voluntariado porque é simplesmente humano.
O que poderá estar mais “certo” ou “errado” é a adequação do sítio e projeto de voluntariado ao perfil e à pessoa que cada um de nós é e aos valores que procuramos nas causas a que nos ligamos. Depois de encontrarmos onde somos adequadamente úteis e com os valores “alinhados”, todas as razões são certas e pertinentes. Isto não significa que devemos ignorar a reflexão das razões e motivações que nos levam ao voluntariado, seja individualmente ou coletivamente. Muito pelo contrário, pois é essencial o entendimento dos princípios das nossas ações, mas devemos procurar fazê-lo mais num sentido de crescimento do que de julgamento.
Por último, deixo um pequeno “segredo”: não há nada de errado em nos sentirmos felizes quando realizamos voluntariado. Isso não retira o altruísmo do ato nem desrespeita a situação, intensifica antes a humanidade inerente a esta ação.
Duarte Paiva / Visão Solidária, 10 de Fevereiro de 2014